Muitos ainda têm saudades das décadas passadas. Éramos jovens sonhadores, inquietos e acreditávamos que, levantando os dedinhos para cima, conseguiríamos o que tanto desejávamos: Paz e Amor! Era uma geração psicodélica. Ao mesmo tempo que nos vestíamos de adultos, também arrastávamos as sandálias, como forma de chamar a atenção, de protestar. O quê? Nem bem sabíamos. Pouco entendíamos do regime que nos totalizava. Se necessário, éramos iguais aos outros, “braços dados ou não” saíamos pelas ruas enfrentando os canhões com as “flores de abril”. Em “disparada” “caminhávamos e cantamos e seguíamos a canção naquela “roda viva”. Assim era nossa construção. Tudo “pra ver a banda passar”. Caminhávamos “sem lenço, nem documento” em busca de um mundo melhor. Os nossos sonhos eram sonhos sociais. Acreditávamos no coletivo. Era parte de nossa formação familiar, religiosa e educacional. Assim, o problema de um era problema de todos. Éramos terríveis e, quando nos abusavam, mandávamos todos “pro inferno” e, ao mesmo tempo, dizíamos: só vou “gostar somente de quem gostava da mim”. Se alguém tentava nos parar dizendo: cálice!, respondíamos com tanto amor e alegria, alegria: “Je t’aime… Let it be…”. Assim, nossa juventude saiu pelas ruas, não somente reivindicando ou protestando, mas, acima de tudo, participando do processo social. Sentíamos sujeitos da História.
Hoje, questionamos onde estão nossos jovens? O que fazem? Por que estão parados? Até nos pegam comparando: “Meu tempo não era assim!” Sim, os tempos mudaram. Isto é bom. Precisamos ver se esta mudança é para melhor, ou não. Ainda não temos parâmetros suficientes para concluir. Mas nos preocupamos com a falta de interesse do coletivo, do social da Juventude. Hoje tudo se resolve mais rapidamente via internet mas, não há o contato físico, psicológico e social. Quando não se gosta, se deleta. Um simples clicar. Os grupos de amigos são poucos agora, são comunidades de internautas. A comunicação ficou mais fácil, mas não quer dizer ainda, melhor pois chegam a amar o desconhecido. Algo impossível até então. No domingo passado, na leitura do Evangelho, refletia sobre o chamado do Mestre: “segue-me”… “quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino dos Céus” (Lc 9, 58 e 62). Eram jovens que queriam seguir o Senhor. Este aceite exige condições de entrega total, de desapego, de renúncia e disposição. Não sabemos se as condições fizeram aqueles seguidores fazer parte efetiva da caminhada, mas vejo hoje que o convite continua sendo feito e vi, na celebração eucarística do Santuário do Sagrado Coração, às 10h, no dia 27 de junho, jovens corajosos aceitando seguir Jesus.
Numa atitude ousada e corajosa, o pároco, padre Enedir, investiu vários jovens, preparados, para assumirem o ministério da Eucarística. A empolgação, a alegria deles eram contagiantes. Faziam-nos a fazer parte daquele ágape festivo, celebrativo. Sentíamos de volta aos velhos tempos. Aconteceu o início da renovação juvenil da Igreja. Há riscos, sim! Isto independe da idade O que se preza é o caráter, a maturidade e a graça divina. Desejamos que outros sigam os passos deste Jovem que morreu cedo para manter seu Reino jovem. Assim, cantaremos a “ode da alegria” em que os jovens, não mais abaixarão seus braços desiludidos da vida e, sim, erguerão, num gesto fraterno, apontando e mostrando a plenitude que o novo está acontecendo no meio de nós! Vamos em frente!
O autor, José Rafael Mazzoni, é professor e mestre – USC – Universidade Sagrado Coração